sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Nicorotina

Meus olhos se abriam, lentamente, enquanto meu relógio apitava sete horas da manhã. Calcei meus chinelos e, cautelosamente, me dirigi ao banheiro, fazendo minhas necessidades em um tempo mais curto que o habitual. Tomei um longo banho, enxaguando a sujeira do dia corrido.
Procurando minhas roupas no armário, percebi que eram sempre as mesmas: paletó, gravata, calça social. A única coisa que mudava era seu tecido e cor. Implicâncias do trabalho. Logo depois, fiz minha maleta e desci as escadas em direção à cozinha, ansioso para tomar meu café. Sem ele não agüentaria. O jornal já estava sobre a mesa, me aguardando.
Como sempre, tomei meu café em um ritmo tão lento que quando estava na metade da xícara, já havia esfriado. Passei pelo corredor e observei os quadros frios na parede. Saí de casa, entrei no carro e enfrentei o trânsito infernal de segunda-feira. Afinal, era horário de pico.
Caminhando do estacionamento ao prédio recém pintado de amarelo, acendi meu velho e inseparável companheiro... O cigarro. Tendo em vista o longo corredor que separava inúmeros cômodos diferentes, andei até chegar à sala onde organizava as papeladas e descansava um bocado até tocar o alarme que me dizia: “Vá! Anda logo! Corra! Você não tem muito tempo! Tempo é dinheiro!”.
Antes de ir, resolvi acender mais um companheiro. A fumaça prevalecia naquela sala. Aquele cheiro de nicotina penetrava em cada canto. Logo, então, obedeci ao horário e corri ao devido lugar. Fiz tudo o que precisava, tive um pequeno intervalo com meu companheiro, que me ocultava por entre a fumaça.
Enquanto o sol refletia um pouco de luz na pequena janela do imenso corredor, olhei para meu pulso esquerdo querendo saber as horas. Hora de voltar. Voltei ao meu carro e com um cigarro no meio dos lábios. Cheguei em casa – lar, doce, lar. Jantei e enquanto lavava a louça, tive um conversa com meu velho companheiro.
Fui ao banheiro e tornei a conversa com ele, enquanto trabalhava num projeto do trabalho que estava devendo para meu chefe. Depois de trabalhar com tanta rigidez, tirei o calçado, que já me atormentava de tanto tempo que ele estava em meus pés, sentei-me na poltrona da sala e observei novamente os quadros frios pregados na parede. Tomei um gole do meu café, para ler um livro de cabeceira sem antes pregar os olhos.
Tornei a acender meu velho e inseparável amigo e liguei a televisão, para juntar-se a nós. Mais um, mais um e mais outro companheiro para a reunião noturna. Tão cheia... E tão vazia.
Subi as escadas, sem pressa de ter mais um atordoado dia como este. Fui sem pressa porque sabia, que ao deitar naquela cama, sozinho, travesseiro e acolchoado macios, iria repousar para depois acordar e viver tudo de novo. Com meus velhos e inseparáveis companheiros. De novo.

junho/2006

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