sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Janelas

Pedro fitava seus olhos através da pequena janela que o vagão lhe dispunha. Ao ver todos aqueles lugarejos desconhecidos, seus olhos brilhavam com muita atenção. Seu pai observava-o com muita ternura. “Primeira vez que consigo levá-lo para fora do mundo limitado em que vivemos”, pensou ele. “Primeira e talvez... última”.
Depois de longas horas de desconforto dentro do trem, finalmente, ouviram seus breques sendo acionados e sua fumaça parando de soprar. O trem parara em seu destino. Pedro virava para Gilberto, ainda com seus olhos brilhantes e perguntava com toda calma:
- Chegamos?
- Sim meu filho, chegamos – respondeu com um sorriso estampado no rosto.
Pegando as malas, foram levados em uma carruagem até uma pequena casa à beira do mar. Pedro largou as bagagens no chão e saiu correndo para a areia. Ficou paralisado durante alguns minutos, encantado com a imensidão do oceano. Surpreso, tirou seus sapatos e afundou os pés na areia indo em direção à água. Ficou parado ali. Até que seu pai resolveu chegar perto dele para sentir a mesma felicidade. Era um momento especial.
- Nunca pensei que isso fosse possível – disse Pedro, quase sem voz.
- Nem eu – respondeu o pai, que logo entrou em casa para arrumar suas coisas.
Pedro continuou ali. Sentado beira-mar sem dizer mais nada. A única coisa que fazia era olhar.
De noite, foram convidados para um passeio por um pescador que morava por ali. José era baixo e um tanto velho. Mas acima disso, muito atencioso. A luz forte da lua cheia iluminava o pequeno barco do velho. Fazia frio. Navegando em silêncio, contemplavam o céu estrelado. Os três homens se sentiam bem. E, sozinhos. A quietude noturna fazia-os pensar na vida. E deixava-os sós.
De volta a casa, Pedro sentia-se sonolento. Agradeceram a José pelo agradável passeio e entraram. Pedro deitou-se na cama, sendo coberto pelo pai. Olhou para o lado e avistou um pequeno livro. Velho e empoeirado. Tanto que não dava nem para ler seu título. Seu pai limpou-o e perguntou:
- Quer que eu leia?
- Não.
Pedro já não estava mais tão feliz. Tratava seu pai secamente. Gilberto – então – deitou-se, sem dizer boa noite e beijar a testa de seu filho, como costumava fazer, dia após dia.
Acordaram com a leve garoa que fazia a janela do quarto impedir que vissem o mar. Depois de se vestirem, foram caminhar pela praia. Conseqüência? Silêncio absoluto. Tanto silêncio - era possível ouvir o piscar dos olhos. Pedro olhava para o mar e já sentia saudade de pensar que era a última vez que veria tudo aquilo.
Gilberto levou-o para almoçar fora e, no restaurante que foram não havia ninguém. Somente seus pratos e as pessoas, que ali não faziam diferença. Seu pai fixava os olhos na mesa, em um ato de frieza.
Já no trem, os dois se lamentavam pelo pouco proveito que tiveram no último passeio. Ele poderia ter sido tudo, enquanto não foi nada. Sem sorriso, sem ninguém.

novembro/2006

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